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Hipertensão arterial continua a preocupar

Em Portugal, esta doença silenciosa afetará cerca 24,4% da população. Em todo o planeta, segundo a OMS, atinge atualmente 1,28 mil milhões de adultos entre os 30 e os 79 anos. Desses, 46% não estarão diagnosticados. Artigo de opinião de Vitória Cunha, coordenadora do NEPRV da SPMI.



A hipertensão arterial não sai de moda. Iremos continuar a falar desta pandemia, esta sindemia aliás, enquanto nos mantivermos tão longe do controlo ideal, daquele que continua a ser o fator de risco mais diretamente relacionado com as principais causas de morte em todo o mundo, o enfarte e o acidente vascular cerebral (AVC). Poucos serão os que não terão ouvido falar dela mas, infelizmente, nem todos sabem quais os valores ideais nem os comportamentos sãos que podem contribuir para um controlo mais adequado.


A maioria ainda não foi adequadamente informada que, tomando a medicação prescrita pelo médico, é mais do que meio caminho andado para um controlo eficaz. A maioria desta informação deve ser obviamente veiculada pelo médico, se não toda, considerando pelo menos o momento do diagnóstico. Ainda assim, cabe ao indivíduo com hipertensão arterial ouvir os conselhos atentamente, procurar cumprir o melhor possível e assumir as rédeas no que diz respeito à toma diária da medicação e responsabilidade sobre a sua doença.


Porque, sim, a hipertensão é uma doença e o mais difícil de encaixar é que é uma patologia crónica e silenciosa. Só dá sintomas no fim da linha, quando surgem complicações como o enfarte, o AVC, a insuficiência renal, a doença arterial periférica, a arritmia, as alterações na visão, a disfunção eréctil e/ou a demência precoce, entre tantas outras evitáveis com medidas relativamente simples e ao alcance de todos. Cá, afetará 24,4% da população. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), atinge 1,28 mil milhões de adultos.


A importância da prevenção


Durante a fase inicial da doença, não há sintomas, o que dificulta a perceção da importância do cumprimento da medicação, facilita os esquecimentos e menospreza a noção das consequências graves e potencialmente fatais da patologia. Mas é nesta fase inicial que é ainda mais fácil de prevenir e controlar, evitando que evolua e danifique lentamente os vasos sanguíneos e os restantes os órgãos. Nesta fase, a medicação é capaz até de reverter algumas das consequências silenciosas que a hipertensão arterial possa ter causado.


É por estas razões que deve ser encarada com responsabilidade o mais precocemente possível para não deixar que as lesões se tornem irreversíveis. É verdade que a genética ainda ninguém a muda, pelo menos não a olhos vistos, mas não basta aceitar que é um problema de família, daí lhe ter chamado sindemia nas primeiras linhas deste artigo de opinião, já que muito do nosso comportamento influencia a evolução deste fator de risco impossível de negligenciar, intimamente ligado a várias outras doenças de hoje.


É o caso do colesterol elevado, da diabetes, do excesso de peso e de tantos outros problemas de saúde. Há mensagens simples que mudam o rumo da hipertensão arterial para a saúde ou para a doença, como medir a pressão arterial regularmente e conhecer os nossos valores. Só os medindo é que sabemos como andam. Devemos saber quais os valores de referência e perceber que devemos estar, regra geral, abaixo dos 14/9. Existem, contudo, nuances para cada um, daí a importância do seguimento médico regular.


Os (outros) conselhos a ter em conta


Outra das recomendações dos especialistas é reduzir o sal na alimentação, substituindo-o por temperos mais saudáveis. Ervas aromáticas como os orégãos, o tomilho, a salsa, o cebolinho e o manjericão ajudam a dar sabor. Evitar as gorduras e optar por encher metade do prato com legumes ou com uma salada é outro dos (bons) hábitos a adotar no quotidiano, tal como evitar o tabaco. Fumar é talvez o comportamento aditivo associado ao maior número de doenças, e não só cardiovasculares, um pouco por todo o planeta.


Tentar praticar exercício físico é outra recomendação comum. Não precisa ser forçosamente num ginásio. Basta fazer caminhadas regularmente ou apostar numa atividade que se encaixe facilmente na rotina de cada um. Por fim, é importante lembrar que só tomando a medicação é que ela poderá fazer efeito. Já dizia um famoso cirurgião nos anos da década de 1980 que a toma de medicamentos que a previnam deve ser regular. A hipertensão arterial não dói, mas o efeito do paracetamol também passa ao fim de algumas horas.


Vitória Cunha é coordenadora do Núcleo de Estudos de Prevenção e Risco Vascular (NEPRV) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), instituição que conseguiu a aprovação dos seus estatutos por despacho ministerial no dia 14 de dezembro de 1951. Especializada em medicina interna, hipertensão, insuficiência cardíaca e diabetes, é também coordenadora da Unidade de Hospitalização Domiciliária do Hospital Garcia de Orta, em Almada, desde 2021 e tesoureira da direção da Sociedade Portuguesa de Hipertensão.

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